
Cobramor
Uma guerra permanente

Um adiado silvo
floresce
Da boca que incandesce
brilho dos olhos posto
o futuro que bebe
nas águas estagnadas do presente
limos, lodo e lixo
imutabilidade duma carência
aferrolha os seres na sua corpulência
esta insuperável obsessão
a mesma invasiva e cíclica
recordação
dum desfiladeiro que se abre
na pele
rasgando-a como adagas
sagrado prego invocando chagas
sitiado num labirinto
sem saída ou abertura
a mesma atmosfera
respirada até ao suplício
engorda a monotonia gestual
na alma que repudia o carnal,
ancorada em lapsos obsoletos
obstrui a evasão
deste país do logro
desta nação da acção fútil
esgota-se a paciência
triturada pela reincidência
tu lembras-te
de todas as persecuções?
umas por vontade
outras por desumanidade
cada um, titã
cavalgando a tempestade
o volúvel cárcere
com rastilho de nostalgia
guia o dia breve
em que se aniquila a santidade
e a veloz agilidade
da mão que empunha a arma
aceitando o seu carma
sob o olhar nublado
pela perversão dos anos
deixo que os duelos sejam
disputados pelos tiranos
despedaço-me antes a mim
numa guerra permanente