
Cobramor
Ossos do ócio

O que nos afasta
desta árida corrosão
é a ideia de
casa
longínqua
onde irrompe
a modernidade, tumulo
das planícies conquistadas
empresta o teu calor
ao quarto governado
pela quietude setentrional,
desposaremos os cumes
na partilha heróica
brilhante
forjada
no duro logro dos dias
batalhas são travadas
batalhas são perdidas
no íntimo
das mãos
cujas fibras vergam
na empresa de reunir sobrevivência
um pouco
de ti morre
diariamente pelos cantos
onde desesperas
a urgência triunfa
sobre cada coisa
menos
a tua preguiça
esperança
que reside no desejo
dos corpos intoxicados
pelos anos,
uma languidez resiste
imaculada
nas manhãs longas
de inércia
nos lençóis
nas calçadas
nas ficções
nas tardes desperdiçadas
nos bares
nas noites que possuímos
e nas que nos possuem
arrombando o sono
como quem rouba
o cadáver ao repouso
minutos preciosos
como pedras
que subtraímos à produção
cola-se
o vício da culpa
a culpa do vício
as mesmas ideias que nos assombram
tornam-nos imagem
frequentemente sucumbimos
por vezes resistimos
embalados
pela modorra e pela desordem
amputação de cada obrigação
como dum membro gangrenado