
Cobramor
O Franco-Atirador

Na calidez súbita da escuridão
um sacrifício da pele à
lenta fantasia da estação
na eternidade do corpo, dançando
a cada devaneio, germinando
a semente do fim,
no meu sangue
floresce um novo inverno
agora misterioso e terno
segui estranhos
pela babel em luto
persegui a solidão
ao longo do nevoeiro frio
que sufoca o antigo rio
um amanhecer lânguido
do espírito,
depois do despertar
finalmente a dormência
releva segredos
da tua ausência
em volta, guerras vãs
por amores desmembrados
a nosso lado, anjos & demónios
indistinguíveis e degenerados
jamais saberão quem somos
nunca conhecerão nossos nomes
desisto, assim
em qualquer esplanada
escondida dos subúrbios,
arrebatamento que invade
a esperança que a realidade
seja o que sempre foi.
Brilha o entardecer
nas estruturas decadentes
as almas estranguladas
deixam a matéria fragilizada
pela engrenagem metalizada
do apocalipse
Afundam pois, na penitência
incómodo da existência,
e conspiração por descobrir
vida que embrutece
torna-se deformada
vida que envelhece
torna-se desfigurada
até à omissão final
refúgio do tangível
em horas por devorar
como se fosse imperecível,
a simplicidade de respirar
venha a nós, o vosso reino
o reino do sono
venha a nós, o vosso reino
reino sem trono
Perdemos os locais onde
fizemos a juventude
até apenas restar
a quietude da lembrança
que poderá não
conter bem-aventurança.
Que essa ferida aberta
reacenda a urgência
de cumprir a missão
antes da falência