
Cobramor
Nada Ninguém Nunca

Esmagadora/amotinadora/ursupadora
esta cidade-tumulto
vulto betão cavernoso
em praças becos avenidas
vivam
cães vadios de olhos
afogados
em melancolia & necrofilia
troncos semeados na
vala-comum do dia
empestam o ar com esmagadora
sensação de opressão
desmoronamos
corpo humano revelado
na escultura que
esquece a sua sepultura
carnal
rígido e cimentado por
teias invisíveis
múltiplas encenações que
forjam um elo com
a saudade
em passado impossível
de insanidade & evasões
esperança
de janelas tremeluzentes
punhados de luz fugidia
sombra esventrada
sombra explodia
consagradas na imbatível
desgraça
ameaça imprevisível e permanente
de desventração
esmagam
a surda cadência
surge estrepitante
pela estática constante
devorando dizimando e despedaçante
como predador & a paisagem
estagnada
fendida pela cartilagem das trevas
reverenciada como
espada de luzidia atormentação
sopro da devastação
alteado e emparedado
em cinzento
ruína feita monumento
febril agitado e ensandecido
por profusão amarelada e funerária
arrastam-se
qual perdida espécie centenária
sentem
roçando o cimento
cheiram-no com os órgãos
mistura ou renascimento como
besta andrajosa em
superfície fuliginosa e
penugem decrépita e gordurosa
passos siderados acelerados perto do
clarão
rota de fuga em viscosa
punição
sufocante
água que goteja pesadamente
lua quebrada & carregada de
penumbra
arrefece o frio
acentuado pelos prolongados
e contundentes uivos
dos organismos transparentes
demente
a nossa criação
em espaço da rotina
encenada em repetição interrompida por
subtil alteração ou violenta altercação
sensível apenas nas horas que se
sustêm
congela
no subterrâneo
vazio entre a estrela
brechas do cutâneo
corporiza-se tenebrosa em
dantesca alucinação
projecção assombrosa
algutinada pelos atormentados
Sem-lugar
resignadamente a marchar para o
Demasiado tarde
o que está Entre-Tudo
o Nada-Ninguém