
Cobramor
Dharma capital

Camuflados
os massacres do nosso quotidiano
alimentam o reino do terror
contagiam a desconfiança
numa distância
bélica
os autocarros
regurgitam
seres da cidade,
metropolitano prenhe
de gargantas aglutinadas,
a maioritária marcha automóvel
funerária
isolamento nos cubículos,
nas ruas da epidemia
desfilam demónios apressados
de apartamentos sedentários
para escritórios mercenários
há um cartaz
há um ecrã
há um rádio
há um jornal
há uma venda
há uma lei
há uma conspiração
há aceitação
há o cortejo de imagens
há sonhos, há miragens
algo poderia ser melhor
eu
poderia ser
mais bonito
mais feliz
mais magro,
mais rico
mais viajado
mais inteligente
melhor pessoa
comer melhor
ter a última novidade
ser a última novidade
ouvir a última música
ver o filme mais recente
conhecer as pessoas certas
saber as últimas novidades
fazer do mundo um lugar melhor
pagar os impostos
seguir a lei
ser tolerante
ser grato
rezar e
partilhar
não existe já um local
onde se cultive a solidão
não se oiçam obras
um carro ou um avião
onde não passe ninguém
não toque um telefone
ou uma campainha
não haja perseguição e
murmúrios longínquos
do mundo material
a mente-macaco
sempre
a mente
macaco