
Cobramor
demasiado longe & tarde demais

que o sangue das juras
me inspire a transgressão
que o toque lascivo
me estremeça a alma
o que esta nação
parasita necessita
é de inspiração
nas vísceras
que se liberte enfim
o poder aprisionado
no isolamento da multidão
que se aniquilem
os actos de contrição
vejo o dia nascer
puro e cristalino
ressuscita o corpo
felino das noitadas
intermináveis
pronto para renunciar
deixar a memória queimar
deixar a história ruir
descamar a derme
ressurgindo potente
na súbita dança
da divina serpente
que as estruturas não mais
nos digiram na sua bílis
a fome inspira-nos
a dor inspira-nos
a morte inspira-nos
não mais atemorizar
dar um passo em frente
ser o primeiro a ousar
enfrentar lentamente
o espelho
desembainhar a adaga
cortar o cordão
geração sacrificada
em vão pelos aparelhos
repressivos
golpe de aço
manobras militares
cavalgadas desenfreadas e
som de turbinas
rugir dos motores
na cabine nua
volteia a hélice
veloz e cortante
estratégia beligerante
o olhar perturbado
esmorece
não hesitarei
depois de tudo
terminado
festejarei o sacrifício
colherei o benefício
não desejando nada
reavendo tudo
é possível viver mais num minuto
do que em toda uma vida
aqui declaro:
abandonar a responsabilidade
negar o compromisso
rejeitar a autoridade
recusar ser submisso
de imediato
sinto o efeito
o mandato de libertação
pulsa no meu peito
demasiado longe para recear
tarde demais para voltar atrás
no sentido do desconhecido