
Cobramor
Dança, louva-a-deus

Espírito arruinado
num abraço esfomeado,
que inunda a noite perdida.
Ao longo da história
existimos,
porque todas as coisas
contêm o seu fim
resistimos,
porque coisa nenhuma
pode terminar assim
Uma súbita revelação
no fantasma da respiração,
com este corpo adormecido
ao meu lado:
- esquece a cidade
- desafia a autoridade
Então, faz o confronto
com o copo na mão,
depois, sonha algum conforto
ancorado no celestial
manto estrelado do caos
Todo o sangue foi em vão,
ainda é em vão!
a vitória é o dia que não chega
e a meta uma mera ilusão
Na surpresa do despertar
as trevas baptizam a nossa carne
entranhas cercadas por solidão
corpos emboscados pela servidão,
distantes diamantes nocturnos
com os seus minutos devorados,
e os nossos grilhões forjados
outra vez, mais uma vez
pela desolada retirada
Que haja um amanhecer
mesmo que amaldiçoado
que haja um renascer
mesmo que magoado
finalmente livres do transe.
ainda que a pele se canse
da novidade do tacto
ainda que a pélvis inflame
na busca do imediato
O covil do medo
inalterado
sustêm a criação deste tempo,
sacrificado
na repetição dos gestos
na fabricação da divindade
na precisão da cópula:
preguiça em toda a conquista
Lá fora
paredes esperam ser pintadas
gentes anseiam ser arrebatadas
prisioneiros clamam pela libertação.
Mas o cosmos
o cosmos em agitação
castiga os parasitas
que sacode do seu coração.
Até que a galáxia que nos pariu
Colapse.
Espectacularmente.