Anti-matéria
Atualizado: Jan 27

Ardam, palácios!
ardam, castelos!
ardam, mansões!
iluminem a nossa fuga
pelas ruas estreitas da cidade:
desfile de sedução
brilho do exílio
cintilação da servidão
corre, segredo do oceano!
pelas nossas veias,
animadas pelo caos
excitadas pela crueldade.
descobrimos a morte
em cada inspiração
encobrimos a morte
em cada expiração
uma nova primavera
num estranho olhar
um novo despertar
no olhar dos estranhos
o assombro das torres sobre
os velhos perdidos na velocidade
as crianças enfeitiçadas
pelo pântano da modernidade,
calma e desespero
nas tuas juras de eternidade
elevando-se na noite cintilante
onde vivem belas criaturas.
gritam por nós,
os desfiladeiros
onde sofreram emboscadas
os mais bravos guerreiros,
sonhamos agora
com o milagre da transformação
mas, para sobreviver
à bruta dor da estagnação
mata e devora
MATA E DEVORA
DEVORA
MAAATAAAAAAAAAAAAA...
incerteza do amanhã
leveza do tempo
subtileza da inocência
todas nos empurram
para ser poeira cósmica
existimos ainda
amantes escondidos nas abóbodas romanas
amantes furiosos nos becos pombalinos
amantes raivosos nos pátios árabes
mas, na volúpia do sono
a amputação
brutal amputação
e a cada despertar
o vício a lutar contra a vontade
vitória confunde-se com a verdade
vamos! Animais moribundos
no rasto da esperança
antes da matança,
subornando o negro anjo
por um derradeiro instante
de voracidade
suficiente para deixar na terra
a perfeição da nossa tempestade
aproxima-se a capitulação
mas antes da resignação
ao automatismo dos gestos
e à imitação do estilo,
só mais um momento de beatitude
só mais um momento de virtude
para realizar
o átomo na plenitude