
Cobramor
Tago

Na sua imperceptível marcha
O rio
mareia invisível contra a prosperidade
da cidade cintilante
resiste fascinante como
juízo ancião
alvo de incompreensão
cadaverosa
brotam a norte estradas vertiginosas
flanqueadas por torres ruinosas
rebenta a sul com
colossais mastros verdes
engolindo a unidade fabril
grito proletário revolucionário
desmoronamentos de abril
em revolta num rugido
abrupto e resoluto
confiscou o poder absoluto
urdindo um adorado ditador
consumado em imolação
ponte que roga um construtor
presenteia as encostas
ao divagar do invasor
conhece a dor da partida, sabe
quantos homens fez e desfez
entre afogamento e salvamento
entre auxílio e exílio
lúgubre clarão celestial
estraçalhou as estruturas
renasceu em raiva primordial
formidável ente bestial
monarca de íncubo e babel
manhã ignóbil em que o atalho
de deus fez-se pelas veredas
todos os santos em labaredas
mil setecentos e setenta e cinco